Coleção de filmes de Charlie Chaplin

Em uma fábrica cinzenta, um operário, enlouquecido de tanto apertar parafusos, ataca as máquinas e seus colegas de trabalho, tornando-se inútil para o seu onipresente patrão.

A cena, alegoria do processo de mecanização do início do século 20, é o mote de "Tempos Modernos", longa de 1936 e terceiro volume da Coleção Folha Charles Chaplin, que chega às bancas neste domingo (30).

Chaplin recriou com graça uma triste situação que lhe foi narrada por um repórter durante uma entrevista.

"Ao saber que ia visitar Detroit [cidade industrial dos Estados Unidos], ele explicou-me o sistema de trabalho na linha de montagem, que atraía jovens sadios e os reduzia a frangalhos nervosos em quatro ou cinco anos", confessou o artista.

Quando concluiu a produção de "Luzes da Cidade", em 1931, o ator aproveitou para entrar em contato com artistas e intelectuais na Europa.

Lá, visitou Londres, Berlim, Viena e Veneza. Depois, seguiu para a França, onde recebeu honrarias.

Foi quando ultrapassou o status de grande nome do entretenimento e passou a conviver com pensadores do porte do dramaturgo Bernard Shaw, do economista John Maynard Keynes e recebeu até a visita de Gandhi.

Estimulado por esses encontros, o artista retornou aos Estados Unidos.

Lá testemunhou o desemprego em massa como consequência da crise econômica de 1929.

CINEMA E HUMANISMO

Ao pensar em produzir "Tempos Modernos", o britânico que se tornou famoso em Hollywood ligou sua imagem pública definitivamente à política e seus engajamentos sociais não eram mais dissociáveis de sua carreira.

No último filme em que Chaplin se vestiu de Carlitos, o vagabundo é escravizado por máquinas monstruosas e regras injustas de trabalho.

"Os equipamentos que poupam o trabalho e outras invenções modernas não deveriam realmente ser feitos para o lucro, mas para ajudar os homens em sua busca pela felicidade", disse ele.

A atualidade incômoda da história pode ser percebida hoje, 76 anos após o lançamento do filme.

Combinando humor e humanismo, Chaplin investiu contra a sociedade baseada no lucro e a era das máquinas que começavam a transformar seres humanos em autômatos oprimidos.

O filme registra a primeira vez em que se ouve a voz do ator no cinema, quando Carlitos improvisa uma canção em que a letra não faz sentido, ironia ao excesso de diálogos que dominam os primeiros longas do cinema sonoro.

Chaplin deu às gerações que o sucederam a oportunidade de perceber o potencial sociológico do cinema. Muito daquele mundo do trabalho ainda persiste, mas a obra do artista resiste também.

Fonte: Folha de São Paulo.

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